sexta-feira, 9 de abril de 2021

Uma questão de empatia

 Há dois dias, enquanto a ajudava com o banho, dizia-me muito triste que tinha tido "bolinha" amarela. Quando lhe perguntei o que tinha corrido menos bem no dia disse-me que não sabia. 

Expliquei-lhe que é normal termos dias menos bons, em que temos mais dificuldade em estarmos concentrados e que também é normal existirem dias em que sentimos mais vontade de conversar. Disse-me que a bolinha amarela tinha sido coletiva porque estavam a conversar enquanto um dos colegas apresentava um trabalho. A Mafalda tem 6 anos e está no primeiro ano. Conversei um pouco com ela sobre a necessidade imperativa de respeitarmos o outro, que o facto de estarem todos a conversar era desrespeitoso para com o colega ainda que eles não tivessem essa intenção. Tentei que ela se colocasse no lugar do outro imaginando-se a apresentar o seu trabalho a um grupo que estava a conversar e não lhe dava atenção. 

Sou a favor desta medição de comportamento, seja através de cores ou de expressões. Porque eles necessitam de ter a noção de como se comportam (a Mafalda opta muitas vezes por não dizer a sua opinião sobre o próprio comportamento com receio que a professora tenha uma opinião contrária) para que possam trabalhar os aspetos menos positivos, sempre com a noção da idade e da dificuldade em gerir as necessidades naturais que vão sentindo. Ainda assim tento não dar demasiada importância, falo com ela, incentivo-a a colocar-se no lugar do outro (seja um colega ou a professora) e tento que ela mesma sinta a necessidade de melhorar o comportamento. Parece ter melhorado e no dia seguinte já voltou ao verde que ela tanto gosta.

Esta minha forma de ver o percurso dela aplica-se também às percentagens dos testes de avaliação. Claro que fico feliz quando vejo óptimas notas mas não as sinto como uma necessidade, foco a minha atenção naquilo que poderá estar menos bem de forma a poder trabalhar e corrigir esses aspetos.

Se nas aprendizagens até tem sido relativamente simples, a professora é excelente aliando a descontração ao rigor e estou imensamente feliz por nos termos cruzado com ela, já o comportamento em casa tem sido mais desafiante. Quando lhe demos o nome associei de imediato à boneca e acho que se fosse de propósito não tinha saído tão bem já que questiona tudo e tenta levar a dela avante. 

Não me parece mau de todo que o faça (porque sinceramente faço o mesmo quando acredito que tenho razão ou quando acho que não me explicam as coisas de forma decente🙄) mas bolas que às vezes é imensamente cansativo. 

Incutiram em mim coisas como: "não dês colo que se habituam mal", "tanto mimo, vão ficar mimados", ensinaram-me que se desarruma o quarto tem que o arrumar sozinha, que as meninas brincam com bonecas e os meninos brincam com carros, que se andarmos com uma saia curta podemos ouvir coisas que não gostamos e a culpa é nossa.

Sabem o que faço com as minhas filhas? Faço tudo ao contrário, tudo ao contrário do que me disseram para fazer. Porque dar muitos miminhos não faz mal, o que faz mal é a criança não se sentir amada. Quando a Mafalda me pede ajuda para a arrumar o quarto, por muita vontade que às vezes eu possa ter de lhe dizer "desarrumaste, agora arruma", vou lá e ajudo porque muitas vezes fico só lá e ela arruma tudo sozinha. Ainda assim este é um processo que se vai trabalhando e eu ainda o estou a trabalhar.

 Dou colo, muito colo, dou muitos beijinhos e muitos abraços, ao ponto de serem elas a afastarem-me. Tento sempre meter-me no lugar delas, nunca esquecendo que sou eu a mãe e há linhas que não devem ser ultrapassadas. Sou amiga mas antes da amiga sou a mãe.

 De há uns anos para cá tenho vindo a treinar a empatia com elas, seja metendo-me no seu lugar e pensar como é que eu gostaria que o meu adulto de referência agisse comigo, seja ensinando-as (com a mais pequena ainda é difícil) a colocarem-se no lugar do outro e tentar sentir o que aquele colega está a sentir.

É difícil mas é bom, às vezes leva-me à exaustão porque não me sinto no direito de lhe responder justificando as minhas escolhas com "porque eu é que mando" ou "porque a mãe sou eu". Não é fácil mas depois de começar a ver os resultados é tão bom, uma espécie de dever quase cumprido (bem sei que o nosso dever na educação dos filhos prolonga-se imenso no tempo).

Costumo dizer que não mando naquilo em que as minhas filhas se vão tornar quando crescerem, mas quero ter certeza que aconteça o que acontecer eu dei o meu melhor e fiz tudo o que podia e sabia para que elas fossem pessoas melhores.



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