A rapariga da baixa

Existem coisas que nos marcam para o resto da vida. Umas pela positiva e outras pela negativa! Existem pessoas que entram na nossa vida por acaso mas não é por acaso que nela permanecem. Cada uma tem sempre uma lição a dar e se as coisas fossem vistas desta maneira acredito que as pessoas seriam bem mais felizes!

Trabalhei um ano na baixa da minha cidade (Setúbal) e conheci uma rapariga que sempre se fez acompanhar por uma matilha com cerca de 10 cães. A rapariga deve ter perto de 30 anos, é estrangeira e vive da música que toca com ajuda de uma flauta. Maioritariamente encontrava-a no “Arco da Ribeira” acompanhada dos seus animais. Esta mesma rapariga foi notícia no jornal da cidade pelo facto de terem sido apresentadas queixas em como os cães poderiam ser perigosos tanto para a saúde com para a integridade física das pessoas que por ali passavam. Quem lhe apontou o dedo de certeza que não conhece minimamente a historia dela, eu também não conhecia mas o amor que ela mostrava pelos animais chamou-me a atenção.

Numa das minhas pausas do trabalho volto a deparar-me com ela, tinha um cartaz que em inglês dizia que uma das cadelas tinha sido atirada de um 10º andar por um toxicodependente, tinha partido duas patas e a operação custava cerca de 400€. Uma história banal de quem poderia estar a pedir dinheiro apenas para alimentar os seus vícios, mas havia mais…

Por uma colega, fiquei a saber que a rapariga tinha curso superior tirado no país de origem mas que acabou por cair na droga. Tudo começou porque ela denunciou um antigo “amigo” que andava a vender droga alterada e os lucros caíram a pique. Como vingança o sujeito lançou a cadela de um prédio. O animal foi de facto operado devido à boa fé das pessoas da clínica e ela estaria então a angariar dinheiro para pagar a dita operação. Ajudei mas admito que com certo receio, acontece que algum tempo depois a mesma cadela já andava junto com os outros e parecia muito bem de saúde!

No passado dia 28 de Novembro (dia do meu aniversário) encontrei-a em Lisboa, com os mesmos cães e com aquela cara de “não se passa nada”. Fui falar com ela, disse que era de Setúbal e que a conhecia da baixa, ela sorriu. Deixei uma moeda e fiz uma festa nos cães. Ela voltou sorrir, disse obrigada seguido de adeus.

Tudo isto porque há muita gente que é julgada sem fundamento. É claro que a rapariga tem problemas com drogas e com a bebida, mas quem olha para os animais consegue ver que ela não descuida com a alimentação dos mesmos, mesmo que a dela não seja a melhor (é extremamente magra). Devíamos de deixar de olhar com tanta frequência para o nosso umbigo e ver que existe gente em situações bem piores que as nossas. O egoísmo vai destruindo-nos e nos nem nos apercebemos!

Beijinho =)