A vida de cão pode ser complicada e quem diz de cão diz de gato... Se não, leiam o seguinte testemunho!
Fui hoje visitar o Canil de Lisboa.
Quando chegámos ficámos cerca de 15 minutos à espera de alguém que nos acompanhasse às instalações.
Ao nosso lado faziam-nos companhia um carrinho de mão e 2 cães mortos.
Passados 5 minutos um sr. levou o carrinho com os 2 cães e ficámos sozinhos.Estivemos ainda mais 10 minutos a ouvir ladrar, a ouvir ladrar e a ouvir ladrar. Não houve espaço nem vontade de conversar ... apenas ficámos ali à espera e a ouvir ladrar.
Lá veio um rapaz novo, levou-nos com ele. Passámos uma grande parede, virámos à direita e finalmente encontrámos os cães. Gaiolas enormes em grade metálica com cães que pulavam, saltavam, ladravam e abanavam as caudas na tentativa de receberem uma festa. As gaiolas tinham uma parte traseira com uma casota. Algumas em condições, outras sem telhado.De qualquer forma havia sempre uma gaiola, uma casota e vários cães. Uma casota e vários cães.
Estavam cerca de 22º graus quando lá estivemos, mas no verão não. E no inverno também não. E as gaiolas eram de metal e estavam ao ar livre.Mas depressa percebi que estes animais estavam na suite presidencial do canil. Viam a luz do sol, não estavam acorrentados e tinham uma casota.
Continuámos a andar e foi aí que o vi. O cãozinho branco. O cãozinho branco acorrentado à parede. O cãozinho branco sozinho. O cãozinho branco longe de todos os outros.O cãozinho branco acorrentado a uma parede, obviamente fora do contexto normal. O cãozinho branco aterrorizado. O cãozinho branco que quando nos aproximámos tremia, e cada passo que dávamos na sua direcção o fazia tremer mais. O que se passava ali???
Olhei para a minha direita. Um enorme barracão aberto mostrava uma pilha de cadáveres de cães misturados com sacos de plástico preto que deveriam conter mais animais.
Era isto que o cãozinho branco temia. A morte. Os seus olhos ficarão para sempre gravados na minha memória.
Continuámos e entrámos nas instalações. Seguiram-se salas atrás de salas. Gaiolas e mais gaiolas. Gatos, gatos, gatos, e mais gatos. Uns sozinhos, outros em pilha de 5 ou 6.Uns miavam para nós, outros encolhiam-se mais ainda quando olhavamos para eles.
Gaiolas de grade com tecto de grade, paredes de grade e fundo de grade. Fundo de grade. É que é mais fácil para limpar, percebem?Nas primeiras salas haviam mantas nas gaiolas de grade. Nas últimas já não.
Terminámos os gatos, e chegámos à última sala da visita. Era só de cães.O barulho e o cheiro era agoniante. A principio, tapei a minha cara com um lenço, depois esqueci-me do cheiro. Os cães saltavam e ladravam para nós, mais uma vez, para nos lamberem as mãos, para nos arrancarem uma festa, um mimo. As suas correntes de 30cm prendiam-nos às paredes pelo pescoço.
Não havia espaço para darem dois passos. Só existem três alternativas: sentados, deitados e de pé. Sentados, deitados e de pé. Sentados, deitados e de pé. Repito isto numa tentativa de vos dar a perceber o que é que é estar nestas condições. E por quanto tempo? Quantos dias? Quantas semanas?
Saímos. Dissemos boa tarde e viemos embora. Mas eles ficaram lá .... sentados, deitados e de pé.
21 de Outubro de 2010
Agradecimentos e créditos à autora
Ana Borges Warrell
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